quarta-feira, junho 29, 2005

Professores... será?

Ora, como se falou de professores, eu senti-me (afinal faço, ainda, parte da classe). Como o Nuno Silva Leal em saiu em sua defesa, eu tinha mesmo que responder. (Estou a brincar, caro Nuno... porém, discordo de muito do que dizes).
Realmente, não é verdade que os professores trabalhem 22 horas na Escola, é, até, uma grande mentira. Os professores (a maior fatia) leccionam em 22 tempos lectivos. Cada tempo lectivo são 45 minutos, o que implica que eles só leccionem 16 horas e 30 minutos. Logo, essa história das 22 horas é uma treta pegada. Para além disso, conforme vão progredindo na carreira (e enganem-se aqueles que pensam que a progressão não é automática, mas já lá iremos) vão tendo menos horas de aulas - gostava de saber qual é a profissão em que isto acontece. Depois há todas as variantes, quem é director de turma tem redução de horário (ou seja, ficam com uma hora para atender os paizinhos e as mãezinhas, mas raramente os encontramos naquele local). Se forem presidentes de Departamento reduz-se também uns tempos, se pertencer ao Conselho Executivo também anda aliviado, entre outras excepções. Alguns professores, espertos, juntam duas ou três coisas e pimba ficam com uma turminha apenas (pode parecer mentira, mas a minha orientadora de estágio fez-me o favor de me explicar como é que ela ia fazer para isso acontecer - e é legal). Por aqui já se vê que as 22 horas não existem para todos os professores, e nem os 22 tempos existem para parte deles.
Quanto aos feriados e dias santos a trabalhar, é verdade... quando é. O que quero dizer é que a grande maioria dos professores não prepara aulas, vai para lá e vê o que acontece, ou, normalmente é o que acontece, lecciona um determinado nível durante muitos anos, para não ter que andar constantemente a estudar matéria nova e poder, assim, não ter muito trabalho a preparar as aulas. Vi, durante este ano, muitos professores a apresentarem material aos alunos ainda batido à máquina (nem uma tentativa de adaptar foi feita). Assim como testes, etc. Claro que a correcção dos testes demora, é certo, mas quando muito, uma turma de 27 alunos, à disciplina de português, demora-me, no máximo, um dia. Se és um professor normal, tens cerca de 5 turmas, logo, cerca de 10 testes por período. Ou seja, 30 testes. São 30 dias. O dia de folga que tens por semana, em nove meses, é-te suficiente para corrigires os testes, ou não?
Não creio que fales a sério quanto às reuniões, pois as de Conselho de Turma acontecem, normalmente, duas vezes por período lectivo, e as de Departamento, ordinariamente, uma vez por mês. Havendo, muito raramente, uma reunião geral de professores.
Após isto tudo e para agravar, tens mais férias do que qualquer pessoa, ou não é verdade?
Quanto à progressão na carreira, esta é automática, pois só tens que tirar uma formação em "estudo das pedras da calçada", desde que reconhecida pelo Ministério (um exemplo é: Formação em Trabalhos com Barro - esta é real) e lá vais tu. Normalmente até conheces o formador que te aprova mesmo sem lá pores os pés. Depois esta formação em nada é aplicada na escola de forma a melhorar o ensino, até porque os professores em vez de fazerem uma única por ano, faz cada um a sua, sem resultados práticos.
Por isto tudo, discordo da tua posição e concordo com o Miguel Carvalho. Concordo contigo numa coisa: os professores deveriam ter condições para trabalharem na escola, isso creio que tens toda a razão.

1 comentário:

Pavão disse...

Como é lógico, isso depois tem a ver com o grau de responsabilidade e profissionalismo de cada um. Por exemplo, um funcionário de escritório é pago para lá estar a trabalhar 8 horas por dia. Os responsáveis trabalham, o outros vão à internet, fazem outros trabalhos, telefonam para os amigos, tiram fotocópias de livros para os filhos, etc. Bons e maus profissionais há em todas as profissões.
Se o Conselho Executivo não se empenha em melhorar os resultados da sua escola e não controla essas situações de duplicação e triplicação de funções, o problema é do CE que não controla os trabalhadores à sua responsabilidade. Se os directores de turma não estão lá, o problema também é dos pais que raramente lá vão e não fazem queixa da situação. Etc. Etc. Etc.
Eu dei aulas um ano, em 1996/97. Eu fiz por merecer o que me pagavam e até estava na escola mais tempo do que o que me era exigido, já que era director do clube de fotografia e em vez de lá estar as 2 horas que tinha de estar, estava lá a tarde toda - e não, não recebia mais por isso, fazia-o de bom gosto!
E vejo a minha mãe, professora há mais de 20 anos e que ainda ontem se deitou às 2 da manhã para preparar as reuniões de hoje do Departamento para escolher os livros do próximo ano lectivo, que prepara as aulas, que está uma tarde inteira só para escolher as perguntas dos testes que faz e não repete testes de um ano para o outro... Etc. Etc. Etc.
Por isso, eu não defendo os professores. Eu defendo alguns profissionais que o merecem. No ensino como noutras profissões. Há os maus e há os bons. Não podemos medir tudo pela bitola dos mediocres senão cada vez estaremos mais próximos da Guiné em vez da Finlandia, como dizia ontem o BarToon do Público!