sábado, maio 21, 2005

Ver

Ora meu caro Miguel (podes-me chamar Xavier se preferires isso ao "despertador", que foi um nick criado para um outro blogue),
Agora sou eu que discordo. E creio que discordamos em dois ou três pontos que tornam difícil a aproximação.
Primeiro o comum. Também me entristece o crescimento de votos nos partidos nacionalistas. Parece-me que tal acontece, precisamente por se deixar determinados temas para esses partidos. Este é um exemplo, por que será que quem apoia o "Não" à Constituição é sempre conotado com partidos extremistas? Será que os meus pontos de vista são nacionalistas ou comunistas? Acredito que não, mas como os moderados querem o "sim", transmitem apenas a ideia que a UE é um mar de rosas, algo que leva algumas pessoas, talvez as mais afectadas pelos problemas da União (que, como qualquer país ou federação, também os tem) a optar pelos únicos partidos que, de uma forma populista, lhes vai vedando a vista. É este medo de discutir alguns tabus (e sim, o "Não" à Constituição tornou-se numa espécie de tabu) que leva, por exemplo na Alemanha, ao forte crescimento dos partidos Neo-Nazis. Não se discute, tem-se medo, como noutras matérias, de ir além do partidário. Isto também é triste.
Concordo também com os canais existentes para a nossa informação. Contudo, o que ninguém informa é o que virá depois, que consequência terá isto no futuro? Como sempre é nestes casos, o futuro só interessa quando lá chegarmos. No entanto, uma Constituição que demorou meses a ser concluída e em que poucos ou nenhuns eram os países satisfeitos, não é um bom indício para o futuro.

A partir daqui, discordo. Tu dizes que em nada nos assemelhamos aos africanos ou aos sul-americanos (entre outros), não podias estar mais distante de mim. A ideologia que tu apontas como sendo a que une a Europa (liberdade, iniciativa privada e democracia), em que ponto nos afasta destes povos? Não há democratas em África e na América do Sul? Não há lutadores pela liberdade? Não podes discriminar os vários pontos do globo que mencionaste apenas por terem sido locais colonizados que nós (os europeus democratas e libertadores) deixámos ao «deus dará». Sinto-me mais próximo dum africano e dum sul-americano do que dum Alemão. A mentalidade é a mesma, a forma de ver o mundo também, afinal, estivemos (nós ibéricos) lá durante séculos... Que outra razão encontras para a Commonwealth? Ou por que te parece que o Brasil tem liderado a CPLP? Nós andamos por aí preocupados com a Europa quando o património cultural comum que temos com os países de língua portuguesa poderiam ser uma outra forma de chegar ao que defines como: "Num mundo globalizado e democrático, os maiores países, mais populosos e poderosos serão aqueles que conseguirão fazer prevalecer os seus valores." Quanto a ideologias, esses países também as têm. Não podemos confundir a ideologia com o seu historial de líderes antidemocráticos nomeados ou colocados no poder por esses países que defendes como exemplos de ideologia.
No que toca à Guerra do Iraque, não sei em que é que uma Federação ajudaria a uma tomada de posição diferente, afinal grande parte dos países europeus de peso eram a favor da guerra, exceptuando a França e a Alemanha, logo a diferença estaria, muito provavelmente, no ingresso de tropas alemãs e francesas no pelotão «libertador» do Iraque.
Não me considero um iluminado, muito menos um Velho do Restelo, acho que a Europa poderá seguir outros caminhos que não, caminhos esses que, por não serem federais, são mais democráticos e livres. Não se trata aqui o de ser governado por Franceses ou Alemães (que, de qualquer forma, não me agrada), trata-se apenas de uma ligação cultural que não sinto presente, como sentem, por exemplo os Norte-Americanos. Culturalmente são iguais (ainda que com as suas variantes). Sempre detestei uniformizações e uma Europa federal tende a uniformizar, por muito que não o queiras, e eu detesto uniformes.