quarta-feira, maio 04, 2005

Roubo na SuperLiga? Portugal Mesquinho.

SOU DO SPORTING.

Se se pode falar em "roubo" no futebol, então nós fomos os mais saqueados durante a década de 90, de longe.

Relativamente a este ano, muito sinceramente, não quero crer que tenha havido intenção por parte dos árbitros nos erros que cometeram ao longo da época. Em ano de início da investigação apito dourado, seriam um descaramento e um risco muito grande. Mas mesmo assim se continua a insistir na tese de "roubo". Errar é humano. Que me lembre, os erros mais escandalosos que vi esta época até foram em Inglaterra. Ex: golo anulado ao Pedro Mendes.

AGORA A SÉRIO. PORQUE O FUTEBOL VALE O QUE VALE.

Sabem uma coisa? Eu penso que o futebol é o espelho da mentalidade e da cultura do povo português. As três características mais evidentes são: a desconfiança, a inveja e a transferência da "culpa" para outra entidade.

A desconfiança está presente em toda a dimensão da nossa sociedade. O próprio Estado é o primeiro a desconfiar dos seus cidadãos. Por exemplo, no caso das infracções ao código da estrada, paga primeiro e depois contesta. Os cidadãos desconfiam do Estado na medida em que veêm neste uma fonte de riqueza e protagonismo para alguns, os chamados "tachistas".

A inveja, bom, esta sentimo-la em toda a parte. Na mercearia, no talho, no café, no vizinho do lado. Este sentimento mesquinho, em que quando vemos alguém melhor do que nós não procuramos ficar como ele, antes preferimos que ela desça ao nosso nível.

Transferência da culpa. Colocar as culpas para cima dos outros é outra característica intrínseca do povo português. Um exemplo recente. De quem é a culpa da crise que estamos a atravessar? Da China. Nossa é que não é, de certeza absoluta. A equipa perde, de quem é a culpa? Do árbitro.

P.S. - Também eu, apesar de cada vez mais raro, sou consumido por estes sentimentos. Ainda no passado sábado, após as vitórias do Benfica e do Porto frente ao Belenenses e Marítimo respectivamente, senti um pouco daquilo que descrevi acima. Mas depois, pensando melhor, e se realmente me quero elevar relativamente a esta mentalidade provinciana, não posso pensar de tal maneira.

2 comentários:

Pavão disse...

Estou plenamente de acordo com a visão dos 3 pecados capitais do nosso país e da nossa mentalidade, mas estou em desacordo quanto ao futebol. Desde logo porque sendo um jogo não pode ser analisado à mesma luz que outras actividades. Não se pode discutir seriamente coisas que nos motivam paixões que nos transcendem a razão (porque sou eu do FCP, porque és tu do SCP, porque é o Pires do VSC?) e enquadrar na mesma vertente da questão da China, por exemplo. É que errar é humano, sim, mas há uns que erram mais do que outros. Este fim de semana vão acontecer novos erros, porque o árbitro do Penafiel é um conhecido benfiquista de camarote ligado a algumas polémimcas recentes e o árbitro do Moreirense é um árbitro dado a exposições públicas de partes intimas, amigo de marcar quase sempre penaltis contra clubes de azul e branco às riscas... Estarei enganado? Espero que a razão diga que sim, mas a paixão diz-me desde já que não...

Pavão disse...

E quanto ao futebol ser o espelho, também não concordo muito. Parece-me muito mais que a política é neste momento esse espelho, até porque o futebol nos últimos anos tem sido uma actividade vencedora e vendedora de activos para o estrangeiro, ao contrário do que somos - sempre derrotados (então, como estás?, vai-se andando..., responde o português médio) e importadores (olha para a nossa balança comercial...).

Já a política tem sido pautada pelo não decidir, deixar para os outros as decisões dificeis, pela teoria do "este rouba mas pelo menos vai fazendo alguma coisa" em contraponto aos outros "que só querem tachos", por uma certa falta de ética ou moral que associo eu à falta de civismo latente na nossa sociedade pós-25A e pela tenativa de ascenção económica via política, um meio público para atinigir um fim privado - esta é a ideia que eu tenho sobre a ideia que os portugueses têm sobre os políticos e esta ideia que tento combater practicando outras formas de fazer política.