quinta-feira, maio 26, 2005

Doeu muito?

"-Pronto, já está, já passou!"
"-Como vê, não doeu nada..."

Podia ser a conversa entre enfermeiro e paciente após uma injecção, mas também pode ser a conversa entre José Sócrates e quem nele votou. Afinal, quem andou a fazer uma campanha eleitoral baseada na promessa que não aumentava impostos (podia ter dito "espero não ser obrigado a aumentar" mas preferiu dizer "não está nos planos aumentar") e quem já empossado como primeiro ministro com 30 dias de trabalho (?) disse "que aumentar impostos é a receita errada" foi ele.

E quem votou nele e acreditou que ele era diferente, agora deve ter pesadelos esta noite com cruzes, boletins de votos e rosas... E é muito bem feito!

A realidade é que ao fim de dois meses já quebrou uma promessa, uma das mais importantes e que poderá ter valido a maioria absoluta. e quebrou, com toda a certeza, o elo de confiança que teria com quem nele votou. Felizmente que a mim a única surpresa é o tempo: esperava isto após as autárquicas e nunca neste momento, pensei que ele fosse andar a não governar durante meio ano para não prejudicar o seu partido. É que como é moda agora dizer-se, "não há almoços grátis" e o PS vai cobrar o apoio que deu aos liberais PS para recuperarem o poder... E o pagamento da factura já começou: ou o que é isto de substituir o melhor gestor e equipa de gestão de sempre da GALP (maiores lucros trimestrais da GALP na sua história, 2004 foi um dos melhores anos de sempre na história da empresa, apesar da enorme subida de preços dos combustiveis que aconteceu no último ano, logo num ano desforável e onde apresentar resultados menos bons até seria aceitável...) por um gestor que ficou conhecido por concentrar a comunicação social num grupo de telecomunicações e por um deputado que que foi derrotado nas eleições autárquicas, foi um péssimo ministro e já admitiu não perceber nada de petróleos?

Caros amigos cósmicos, eu por mim já não me surpreendo com IVA's a 21% e o desaparecimento da categoria intermédia de 12% ou com mais impostos sobre produtos petroliferos vindos de quem vem, porque há 30 anos que sempre que o PS teve o poder aplicou a mesma receita.

Como muito bem frisou Marques Mendes no debate hoje à tarde, com este PSD pode o governo contar para cortar nas despesas da gestão da coisa pública. Pode até contar para subir impostos sobre vicios, que é como quem diz, alcool e tabaco. Mas para impostos que vão cair em cima de todos os portugueses, em particular sobre as empresas aumentando os custos de produção (energia mais cara, transportes mais caros, logo matéria prima mais cara e produção mais cara) e aumentando os impostos directos que farão retrair ainda mais o consumo, aumentando a carga fiscal sobre as firmas e originando com isto, com toda a certeza, uma nova vaga de falências e um disparo da taxa de desemprego nos próximos meses.

Quem votou nele agora que trabalhe para o tirar de lá antes que isto não tenha salvação possivel, porque só quem não souber da forma como a despesa (não) é controlada nos organismos públicos é que não percebe como é que o défice é o que é!

E por último, que isto já vai longo: há aí algum economista que me explique como é que pode haver uma previsão de défice? É que eu só conheço défices de execução. Explicando: se eu tenho 100 para gastar este ano e tenho planos para gastar 106, há uma previsão de um défice de 6. Mas o défice no final só o será de facto de 6 se eu gastar mesmo os 106 sabendo de antemão que só tenho 100! Porque o que uma pessoa normal faz com o seu orçamento é tentar controlar os gastos de forma a tentar fazer as mesmas coisas que custariam 106 por 100 ou menos ou, na pior das hipóteses, abdica de fazer algumas das coisas planeadas para gastar no máximo os 100 que dispõe, ficando no final com um défice 0 ou até nem tendo défice orçamental nenhum, antes tendo um superavite que permitirá, talvez, no ano seguinte, fazer cumprir aquilo que não foi feito no ano anterior! Agora virem dizer que no final deste ano vai haver um défice de 6,83 (reparem no preciosismo, não é 6,8, não, é 6,83!) e atirarem as culpas para trás é que não! Porque quem está a gerir os dinheiros desde 12 ou 13 de Março, não me recordo, é este governo! Logo se houver um défice no final do ano ele é practicamente e exclusivamente da responsabilidade dele, que não quis alterar aquilo que era preciso para conter as despesas e preferiu aumentar a carga fiscal, aumentando as receitas, para retirar apenas 0,6 ao défice anunciado pela "Comissão Constancio"...

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