quarta-feira, abril 27, 2005

A Questão do Proteccionismo: Primeira Parte

Sobretudo desde à 25 anos a esta parte que somos grandes importadores de produto japoneses, alemães e norte-americanos com elevado grau tecnológico.
Nessa altura exportavamos calçado, têxteis, cortiça e vinho. Trabalhavamos o dobro das horas e trabalho infantil era o que não faltava.

Convergirmos e aproximarmo-nos da Europa é incompatível com proteccionismo a indústrias não competitivas que ainda por cima se dedicam à manufactura de produtos com reduzido valor acrescentado.
As boas indústrias do sector têxtil - aquelas que apostaram no segmento da distribuição, criaram uma marca e uma imagem, apostaram na inovação, no design e em novos materiais - não reivindicam cláusulas proteccionistas. Estão salvaguardadas graças à capacidade de visão dos seus gestores. À sensivelmente duas décadas que as nossas empresas têxteis estão avisadas para a liberalização mundial do sector.
É verdade que o têxtil é um sector com bastante peso na nossa força de trabalho, principalmente na região do Ave. Mas não é de agora que ouço falar em falências nessa região...

De uma coisa tenho a certeza. Convergir com a Europa não é gastar recursos em subsídios proteccionistas a empresas inviáveis no médio prazo, incapazes de caminharem pelos seus próprios pés. É preferível gastar em formação a desempregados vindo daquelas indústrias - as pessoas com 40 anos têm que estar preparadas e serem capazes de estudarem e se adaptarem a uma nova função; apoiar jovens licenciados com ideias inovadoras em áreas como o software, a electrónica, a robótica, a biotecnologia ou a nanotecnologia; criar maior interligação entre universidades e empresas; apoiar as nossas jovens e micro empresas de cariz tecnológico na sua árdua caminhada para a internacionalização e reconhecimento por parte de outros países. Não existe uma única marca portuguesa que seja conhecida a nível mundial. Apenas o Figo e o Mourinho...
Actualmente, só as exportações por parte da Auto-Europa representam 2% do PIB. Se medíssemos em termos de valor acrescentado para a nossa economia, creio que aquela percentagem seria bem superior.

Eu sou um liberal. Defendo protecção social aos trabalhadores das indústrias falidas através do fundo de desemprego, de formação técnica activa e contínua. Não defendo protecção às indústrias. Seria adiar e gastar recursos a tentar evitar o inevitável. Defendo liberalismo para os nossos produtos, mas sou ainda mais liberal quando se fala nas barreiras e taxas alfandegárias aos produtos agrícolas, têxteis e outros oriundos de países subdesenvolvidos.

Para terminar, apenas um exemplo. A Política Agrícola Comum consome aproximadamente 70% do orçamento europeu, do qual a maior parte é para subsidiar agricultores, enquanto deveria ser para requalificar as nossas florestas e áreas rurais, apostar no turismo rural e de natureza ou na requalificação do património histórico. Em consequência, os europeus pagam mais pelos produtos alimentares. Em consequência, os países pobres ficam mais pobres e incapazes de pagar a sua dívida externa. Em consequência, desviamos recursos para um sector essencial na ordenação e planeamento do território, mas insustentável do ponto de vista produtivo.
Em consequência, continuamos a calar o egoísmo e chauvinismo dos agricultores franceses... aqueles que encabeçaram a luta anti globalização na Europa.

Continua...

1 comentário:

"Fernando Pessoa" disse...

Eu concordo plenamente, não vamos continuar a adiar o problema.....queros um Choque Tecnologico Já