sexta-feira, abril 01, 2005

Na Vanguarda

Quando as palavras que mais se ouvem falar nos últimos 3 meses são "choque tecnológico", temo que seja apenas mais um termo pseudo-vanguardista para ser utilizado na retórica política de "embalar" - qual bébé - os portugueses.
Eu gostaria de perguntar ao sr. primeiro ministro se já ouviu falar na palavra nanotecnologia? É que se ouviu ainda não a dirigiu uma única vez aos portugueses, que na sua grande maioria nem lhes passa sequer pela cabeça o que é e as potencialidades que tem.

A nanotecnologia praticamente ainda não tem aplicação, nem implicações.

Quer isto dizer que, as aplicações práticas ainda não saíram do laboratório e as implicações morais, éticas e sei lá que mais ainda não são discutidas nos meios de comunicação social, logo passam completamente ao lado dos portugueses e do mundo em geral.

Apesar de leigo na matéria, de duas coisas estou plenamente convicto.

A primeira é que se a nanotecnologia tiver metade das aplicações e implicações que os especialistas dizem que tem, então estamos perante uma revolução científica sem precedentes (põe a internet e os telemóveis num bolso). Irá criar muitos dilemas morais e éticos. Tem coisas boas e coisas más. Terá que se enquadar e legislar de acordo com os valores da sociedade em que nos inserimos, mas não podemos ficar agarrados a tradições ou a medos sem fundamento. O bem e o mal estarão sempre lado a lado, onde quer que exista um humano. Colocar a tecnologia ao serviço da Humanidade e não ao serviços de interesses corporativos que apenas beneficiarão meia dúzia de poderosos, será o papel das intituições políticas que terão que ser democráticas, globais e com poder reconhecido pelas grandes potencias mundiais.
A segunda é que os reponsáveis portugueses que nos vem falar em choque tecnológico todos os dias, deviam estar já a preparar um plano de canalização de investimento público para a investigação nesta área. Um plano sério e integrado de formação e investigação ligado à nanotecnologia. Desde bolsas de estudo para cientistas portugueses no estrangeiro, importação de massa cinzenta - pagando bem claro, mas isso é que é investir -, apostar na investigação científica nas universidades, constituir um centro de integração do conhecimento ( já que a nanotecnologia irá revolucionar a medicina, a electrónica, a informática, a biologia, simplesmente tudo), apoiar a criação de empresas ligadas ao desenvolvimento, produção e comercialização de produtos que utilizem esta tecnologia. Portugal está claramente atrás da maioria dos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento no que respeita ao investimento direccionado para a investigação em nanotecnologia.

Se queremos estar na vanguarda do choque tecnológico que se está a dar em todo o mundo, não podemos perder mais tempo. Semeia-se agora, para se colher daqui a uma ou duas décadas.
O inconveniente é o ciclo político ter apenas quatro anos, o que condiciona sobremaneira a acção de quem dirige o país.

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