sexta-feira, junho 02, 2006

Temor, Timor

Para quem teve a felicidade ou sorte de conviver um dia inteiro com o prémio Nobel da Paz D. Ximenes Belo e pode, por isso, ouvi-lo falar sobre a sua longinqua pátria, sobre os seus amigos e sobre o seu povo, julgo que nem isto que se está a passar é uma total surpresa nem, inversamente, deixa de surpreender!

Tal contradição posso explicá-la com facilidade. É que se por um lado quem como eu o ouviu falar de forma apaixonada de Timor e do grande futuro que o seu país tem enquanto independente, também não deixou de o ouvir falar sobre os muitos obstáculos que ainda teriam que ultrpassar algumas gerações de timorenses até que o sol se erguesse para todos em Timor do Sol Nascente.

E se ele o disse aqui em Guimarães há pouco mais de um ano atrás (Novembro de 2004) o que me surpreende neste momento, mais do que alguns desacatos e pilhagens fruto de uma crise temporária, surpreende-me muito mais o desentendimento entre as mais altas entidades do país e a relativa passividade, pelo menos aparente, da Igreja neste processo. Igreja essa que foi essencial, pelo que percebi, muito mais que a Fretilin, para que hoje Timor seja um Estado independente.

Espero que ao menos desta vez um dos países que foram as nossas colónias tenha sucesso na sua tentativa de trilhar caminhos pelos seus próprios pés, porque quanto aos países africanos estamos conversados...

Espero mais ainda porque eu, como milhares (ou milhões?) de outros portugueses, tenho ainda bem fresco na memória a união em torno das bandeiras brancas nas janelas das casas, dos carros, nas roupas, um branco de paz e harmonia que ligou Portugal a Timor e que me satisfez na solidariedade que uniu então o povo português ao martirizado povo timorense.

Espero que Xanana saiba dar a volta à situação usando da sua enorme influência local. Espero que Ramos Horta use a sua grande influência externa. Espero que a Igreja saiba conduzir o seu povo, o seu rebanho, até à paz e prosperidade. Espero um dia poder ir a Timor e visitar pacifica e calmente aquele pequeno pedaço de terra perdido no meio do mar que ficava algures na nossa rota até ao oriente longinquo.

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