Quem lá vai a pé…volta diferente!!!
Várias vezes ouvi isto antes de partir…e na verdade, sempre me recusei a aceitar essa afirmação como totalmente verdadeira, pensando sempre que era mais uma maneira de me convencer ou então uma ideia feita por quem já tinha ido simplesmente para vincar e justificar ainda mais a viagem realizada. Agora admito, aiiii o quanto eu estava errado!!!
Sim, é verdade, fui a Fátima … a pé!!!
Trago muita coisa comigo, mas principalmente uma experiência de vida inesquecível, mil historias para contar e uma visão diferente daquela que tinha sobre as pessoas, os limites humanos, a força de vontade e a força psicológica do ser humano quando está concentrado num objectivo.
Antes de mais, tenho de vos esclarecer que não fui a Fátima a pé, por ter feito qualquer tipo de promessa religiosa ou outra, como acontece com a maioria das pessoas que faz esta viagem. Fui, por varias razões, mas principalmente porque queria ter mais esta experiência de vida, porque queria provar mais esta “aventura” espiritual, porque queria sentir e viver, nem que fosse uma vez na vida, o que era afinal ir a Fátima a pé!!!
Embora tenha a tal fé e acredite em algo superior ao ser humano, nunca me passou pela cabeça fazer uma “troca” daquelas: fazes-me isto e eu vou a Fátima a pé. Do género “toma lá e dá cá”. Não, sempre me recusei e recusarei a fazer uma coisa desse género. Ao contrario, fui com os meus pensamentos, com as minhas convicções e com o meu “interior” cheio… embora respeite e não condene quem vá com a tal promessa, pois cada um sabe de si.
Assim, mal surgiu a oportunidade de fazer esta viagem com um grupo de 44 pessoas do Porto, muitas delas já experimentadas neste género de “caminhada espiritual”, não tive duvidas e aceitei o desafio logo na primeira abordagem.
Éramos 44 pessoas, dos 25 aos 75 anos, todos com experiências de vida, com histórias e com motivações diferentes e das mais variadas possíveis. E, ao contrario do que se imagina, são muitos, mesmo muitos os jovens que fazem esta caminhada, afastando assim aquela ideia errada que isto é coisa de velhinhas muito religiosas do Portugal de outros tempos…enganam-se meus amigos…e nem imaginam quanto!!!
O grupo com quem tive o prazer de caminhar, tinha 2 “guias”, o Fernando e o Artur, a quem “tiro o meu chapéu” por toda a organização e empenho. Tanto um como outro, são homens dos seus 40 e poucos anos, habituados desde há muito a estas andanças, homens que durante o ano, fazem 1 trabalho incrível com os sem abrigo do Porto e que por estas alturas do 13 de Maio organizam, como eles gostam de chamar: “a caminhada à Mãe”. Depois, e não podia deixar de referir, tínhamos a Antonieta, senhora do seu nariz, também ela na casa dos 40 que fez um trabalho absolutamente extraordinário com a carrinha de apoio aos peregrinos do nosso grupo. Alias, se não fosse ela, não sei se teria conseguido chegar até ao fim...o resto do grupo era maioritariamente jovem entre os 27 e os 40 anos, sendo que os restantes membros ultrapassavam essa idade mas apenas no B.I.. Por falar nisso, aproveito para dar os parabéns a D. Rosa e ao Sr. Ferraz, que do alto dos seus 60 e muitos anos, caminharam com mais força e vigor que muitos dos “xavalos” que lá iam. Principalmente a D. Rosa, avó, moradora e filha da Ribeira do Porto, como ela gostava sempre de vincar, era uma coisa impressionante, pois desde que saímos do Porto, tomou sempre a dianteira, sem nunca sequer sofrer de uma única bolha nos pés (coisa banal neste tipo de caminhada), sem nunca precisar de uma única massagem nos músculos das pernas ou outros (a Antonieta era perita neste tipo de massagem relaxadora), e mais inacreditável ainda é que a D. Rosa chegava a ter mais de 1h30m de avanço nos pontos de chegada em relação ao resto do grupo!!!
Eram cerca das 00h30m do dia 6 de Maio de 2006, quando partimos da Igreja de Nossa Senhora de Fátima na Boavista (Porto), começando assim a nossa “aventura espiritual”. Logo na 1ª etapa foram 37km durinhos, com paragem para pequeno-almoço e descarga de resíduos lá alcançamos a meta por volta das 10h30 com as minhas 3 primeiras bolhas nos pés! Coisa normal para 1 caloiro que não sabia os truques da escolha adequada de calçado, cremes para os pés e etc…sim porque fica já aqui o aviso, não é por ter umas sapatilhas "XPTO" que se vai mais confortável, bem pelo contrario, sandaliazinha ou sapatilha da mais velha e usada que há lá em casa, é do melhor!!! E quando se vê na estrada pessoas com mais de 60 anos a caminhar com chinelinho de quarto como se nada fosse, acho que está tudo dito.
Apesar de puxada, a 1ª etapa estava concluída e depois de furar as bolinhas, de 1 bom banho relaxante e de 1 sono tranquilizante, estava pronto para outra… as partidas eram sempre por volta das 03h00 e as chegadas por volta das 13h00, pois assim só caminhávamos de madrugada e de manha, com o sol não era tão incomodativo e o transito era menos intenso. Durante a madrugada escura, caminhávamos sempre juntos, com os nossos coletes luminosos e acompanhados pelas estrelas e pela lua, cantando, conversando, trocando amizades e apoios amigos. A partir da paragem do pequeno-almoço, depois do sol raiar, cada um era livre para caminhar ao seu ritmo, sempre com o apoio da carrinha da Antonieta, e com a paragem nos locais previamente estipulados.
Albergaria-Mealhada, sem duvida a minha 1ª etapa de confronto e de teste físico e principalmente psicológico. Numa etapa com 40km, muitas coisas nos passam pela cabeça…e tenho de admitir que me foi deveras difícil chegar a “meta”! Mas ir a Fátima a pé, não é só caminhar e chegar ao fim, é mais que tudo encontro connosco mesmos, apoio e amizade de ser humano com ser humano…e com 1 massagem “milagrosa” de voltaren em gel, feita pela Antonieta, lá consegui atingir mais 1 meta, onde nos esperava um reconfortante e merecido leitãozinho e umas belas de umas garrafinhas daquela espumante tinto que só sabe daquela maneira na Bairrada.
Pela estrada fora, são muitos os postos da cruz vermelha e do exercito da cruz de malta que fazem apoio médico aos peregrinos, mas felizmente tínhamos a Antonieta e não precisamos de lá entrar, a não ser a 1 caso mais grave de uma senhora do grupo com 1 veia mais teimosa, mas que ficou prontamente resolvido.
Águeda, a minha 1º dose de droga (Voltaren) para aguentar as dores provocadas pelo inchaço nos pés, muito devido a escolha errada do calçado! Mudanças de sapatilha para umas belas de umas sandálias daquelas típicas de viajante, que a partir dai me acompanharam até ao fim…
Já depois dos 100km percorridos cruzamo-nos com 2 peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, estes já experimentados de mochila as costas e umas impressionantes botas de montanha!!! Cumprimentos, desejos de boa viagem e lá seguimos em direcções opostas mas com o mesmo principio…
Pelo caminho, são vários os grupos que se juntam ao nosso, que nos acompanham, nos ultrapassam ou simplesmente estão encostados a recarregar baterias, com autenticas “mesas de casamento”, com pic-nics que mais parecem manjares de deuses, camiões e carrinhas que servem para dormir, transportar agua e fruta, ou simplesmente para ter o rádio ligado enquanto cá fora se dança e canta como se não se tivesse já caminhado mais de 100km… o corpo humano tem mesmo muitos segredos!!!
Entre muitas peripécias, encontros e desencontros, que me demorariam horas a descrever aqui, lá chegou a esperada última etapa, Pombal-Fátima. Para quem não conhece, as retas da estrada nacional nº1, elas são na zona do Pombal, mais longas que em qualquer outra parte do pais. Assim, quando se começa 1 daquelas rectas e se vê o seu fim lá no fundo, caminha-se e caminha-se e parece nunca mais acabar a dita!!! É desesperante…aqui, mais 1 truque dos “velhos” da estrada: Sr. Fernando tenho de parar, ainda falta muito?! – Não…Não, é mesmo já ali!!! São mais 10m para parar. É como quem engana 1 criança, não por maldade, mas antes porque tem de ser assim, e pronto, lá fazemos nós mais 2 horinhas até a prometida paragem sem nos darmos conta disso.
Já agora deixem-me dizer-vos que o pior da viagem são mesmo as estradas, completamente impróprias para peões, perigosas, com bermas que nem 30cm têm em algumas partes do percurso e onde os camiões passam a altas velocidades a cm dos nossos corpos!
No Barracão, essa bela localidade, saímos finalmente da estrada nacional e tomamos o caminho dos peregrinos pelo meio dos montes, um “corta-mato” de cerca de 20km até Fátima, que todos os peregrinos vindos do norte atravessam, pois para além de ser mais curto, é o caminho em que encontramos o Monte de Santa Catarina e a respectiva Via Sacra com cerca de 8km mesmo antes de entrar em Fátima.
Nestes últimos km deparamo-nos com milhares e milhares de peregrinos, vindos dos mais diferentes e inimagináveis locais deste nosso Portugal, mas todos eles com 1 mesmo objectivo. Também aqui surgiu a nossa peregrina quase desistente…mas ao fim de mais de 1h de conversa e descanso lá a convencemos que quem chega até ali, chega até ao fim…
Depois da Via Sacra, vemos Fátima no horizonte e o nosso coração começa a palpitar cada vez mais rápido e mais forte, juntamo-nos em grupo, vestimos as t-shirts da luta contra o cancro, chapéu igual na cabeça, o Fernando toma a dianteira do grupo e levanta a bandeira do grupo (Aldoar – Porto) a mesma que usam no apoio aos sem-abrigo e estamos mesmo a chegar.
Finalmente, por volta das 15h30 do dia 11 de Maio de 2006, entramos no recinto e a emoção e os sentimentos estão a flor da pele, é indescritível o que se sente ao entrar naquele recinto depois de uma viagem destas! Em frente a Capelinha das Aparições, abraçamo-nos uns aos outros, cumprimentamo-nos, choramos, libertamos o que nos vai cá dentro…é reconfortante e inexplicável esta sensação, as dores que trazíamos no corpo desaparecem por minutos, a paz interior e a alegria apodera-se de nós e sentimo-nos bem, muito bem.
Depois é tempo de descanso, de tratar de bolhas e de dores musculares, de reconfortantes almoços, jantares e dormidas nas Irmãs Vicentinas (Grupo de Freiras muito simpáticas e que fazem o bem de Fátima), que albergam por estes dias vários grupos de peregrinos e que deles cuidam como se de filhos se trata-se.
Procissão das velas com mais de 200 mil pessoas e Procissão do Adeus com mais de 300 mil, nem sequer vale a pena falar, pois só lá estando se pode sentir, é-me impossível descrever-vos.
Já era religioso, embora não praticante, mas sempre com a minha fé muito própria e que só a mim diz respeito, com muitas dúvidas e opiniões muitas vezes diferentes sobre muitas das coisas que a igreja católica defende e preconiza. Continuo igual, com as mesmas opiniões diversas em muitas questões, continuo igual, com a minha fé interior, mesmo sem ir a missas e afins…
Mas no entanto, venho diferente, realmente diferente, sobretudo no que diz respeito à maneira de encarar situações e comportamentos, de aprender que cada um é o que é e faz aquilo com que se sente melhor logo que não “pise” ninguém, que o amor ao próximo, a inter-ajuda entre seres humanos e o braço ou a palavra amiga entre nós, vale mais que muitas coisas banais do dia-a-dia.
Se cada um de nós, mesmo não sendo religioso, não tendo fé ou acreditando numa qualquer outra religião ou forma de fé, e há que respeitar isso como tudo o resto, der o melhor de si em prol dos outros e em prol de uma harmonia entre todos, o mundo será melhor, mais fácil, mais humano e sobretudo mais livre.
Foi sem duvida alguma, uma experiência de vida, não sei se para algum dia repetir ou não, mas que me ajudou a fazer algo que há muito não fazia…discutir, pensar e reflectir comigo mesmo!
Várias vezes ouvi isto antes de partir…e na verdade, sempre me recusei a aceitar essa afirmação como totalmente verdadeira, pensando sempre que era mais uma maneira de me convencer ou então uma ideia feita por quem já tinha ido simplesmente para vincar e justificar ainda mais a viagem realizada. Agora admito, aiiii o quanto eu estava errado!!!
Sim, é verdade, fui a Fátima … a pé!!!
Trago muita coisa comigo, mas principalmente uma experiência de vida inesquecível, mil historias para contar e uma visão diferente daquela que tinha sobre as pessoas, os limites humanos, a força de vontade e a força psicológica do ser humano quando está concentrado num objectivo.
Antes de mais, tenho de vos esclarecer que não fui a Fátima a pé, por ter feito qualquer tipo de promessa religiosa ou outra, como acontece com a maioria das pessoas que faz esta viagem. Fui, por varias razões, mas principalmente porque queria ter mais esta experiência de vida, porque queria provar mais esta “aventura” espiritual, porque queria sentir e viver, nem que fosse uma vez na vida, o que era afinal ir a Fátima a pé!!!
Embora tenha a tal fé e acredite em algo superior ao ser humano, nunca me passou pela cabeça fazer uma “troca” daquelas: fazes-me isto e eu vou a Fátima a pé. Do género “toma lá e dá cá”. Não, sempre me recusei e recusarei a fazer uma coisa desse género. Ao contrario, fui com os meus pensamentos, com as minhas convicções e com o meu “interior” cheio… embora respeite e não condene quem vá com a tal promessa, pois cada um sabe de si.
Assim, mal surgiu a oportunidade de fazer esta viagem com um grupo de 44 pessoas do Porto, muitas delas já experimentadas neste género de “caminhada espiritual”, não tive duvidas e aceitei o desafio logo na primeira abordagem.
Éramos 44 pessoas, dos 25 aos 75 anos, todos com experiências de vida, com histórias e com motivações diferentes e das mais variadas possíveis. E, ao contrario do que se imagina, são muitos, mesmo muitos os jovens que fazem esta caminhada, afastando assim aquela ideia errada que isto é coisa de velhinhas muito religiosas do Portugal de outros tempos…enganam-se meus amigos…e nem imaginam quanto!!!
O grupo com quem tive o prazer de caminhar, tinha 2 “guias”, o Fernando e o Artur, a quem “tiro o meu chapéu” por toda a organização e empenho. Tanto um como outro, são homens dos seus 40 e poucos anos, habituados desde há muito a estas andanças, homens que durante o ano, fazem 1 trabalho incrível com os sem abrigo do Porto e que por estas alturas do 13 de Maio organizam, como eles gostam de chamar: “a caminhada à Mãe”. Depois, e não podia deixar de referir, tínhamos a Antonieta, senhora do seu nariz, também ela na casa dos 40 que fez um trabalho absolutamente extraordinário com a carrinha de apoio aos peregrinos do nosso grupo. Alias, se não fosse ela, não sei se teria conseguido chegar até ao fim...o resto do grupo era maioritariamente jovem entre os 27 e os 40 anos, sendo que os restantes membros ultrapassavam essa idade mas apenas no B.I.. Por falar nisso, aproveito para dar os parabéns a D. Rosa e ao Sr. Ferraz, que do alto dos seus 60 e muitos anos, caminharam com mais força e vigor que muitos dos “xavalos” que lá iam. Principalmente a D. Rosa, avó, moradora e filha da Ribeira do Porto, como ela gostava sempre de vincar, era uma coisa impressionante, pois desde que saímos do Porto, tomou sempre a dianteira, sem nunca sequer sofrer de uma única bolha nos pés (coisa banal neste tipo de caminhada), sem nunca precisar de uma única massagem nos músculos das pernas ou outros (a Antonieta era perita neste tipo de massagem relaxadora), e mais inacreditável ainda é que a D. Rosa chegava a ter mais de 1h30m de avanço nos pontos de chegada em relação ao resto do grupo!!!
Eram cerca das 00h30m do dia 6 de Maio de 2006, quando partimos da Igreja de Nossa Senhora de Fátima na Boavista (Porto), começando assim a nossa “aventura espiritual”. Logo na 1ª etapa foram 37km durinhos, com paragem para pequeno-almoço e descarga de resíduos lá alcançamos a meta por volta das 10h30 com as minhas 3 primeiras bolhas nos pés! Coisa normal para 1 caloiro que não sabia os truques da escolha adequada de calçado, cremes para os pés e etc…sim porque fica já aqui o aviso, não é por ter umas sapatilhas "XPTO" que se vai mais confortável, bem pelo contrario, sandaliazinha ou sapatilha da mais velha e usada que há lá em casa, é do melhor!!! E quando se vê na estrada pessoas com mais de 60 anos a caminhar com chinelinho de quarto como se nada fosse, acho que está tudo dito.
Apesar de puxada, a 1ª etapa estava concluída e depois de furar as bolinhas, de 1 bom banho relaxante e de 1 sono tranquilizante, estava pronto para outra… as partidas eram sempre por volta das 03h00 e as chegadas por volta das 13h00, pois assim só caminhávamos de madrugada e de manha, com o sol não era tão incomodativo e o transito era menos intenso. Durante a madrugada escura, caminhávamos sempre juntos, com os nossos coletes luminosos e acompanhados pelas estrelas e pela lua, cantando, conversando, trocando amizades e apoios amigos. A partir da paragem do pequeno-almoço, depois do sol raiar, cada um era livre para caminhar ao seu ritmo, sempre com o apoio da carrinha da Antonieta, e com a paragem nos locais previamente estipulados.
Albergaria-Mealhada, sem duvida a minha 1ª etapa de confronto e de teste físico e principalmente psicológico. Numa etapa com 40km, muitas coisas nos passam pela cabeça…e tenho de admitir que me foi deveras difícil chegar a “meta”! Mas ir a Fátima a pé, não é só caminhar e chegar ao fim, é mais que tudo encontro connosco mesmos, apoio e amizade de ser humano com ser humano…e com 1 massagem “milagrosa” de voltaren em gel, feita pela Antonieta, lá consegui atingir mais 1 meta, onde nos esperava um reconfortante e merecido leitãozinho e umas belas de umas garrafinhas daquela espumante tinto que só sabe daquela maneira na Bairrada.
Pela estrada fora, são muitos os postos da cruz vermelha e do exercito da cruz de malta que fazem apoio médico aos peregrinos, mas felizmente tínhamos a Antonieta e não precisamos de lá entrar, a não ser a 1 caso mais grave de uma senhora do grupo com 1 veia mais teimosa, mas que ficou prontamente resolvido.
Águeda, a minha 1º dose de droga (Voltaren) para aguentar as dores provocadas pelo inchaço nos pés, muito devido a escolha errada do calçado! Mudanças de sapatilha para umas belas de umas sandálias daquelas típicas de viajante, que a partir dai me acompanharam até ao fim…
Já depois dos 100km percorridos cruzamo-nos com 2 peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, estes já experimentados de mochila as costas e umas impressionantes botas de montanha!!! Cumprimentos, desejos de boa viagem e lá seguimos em direcções opostas mas com o mesmo principio…
Pelo caminho, são vários os grupos que se juntam ao nosso, que nos acompanham, nos ultrapassam ou simplesmente estão encostados a recarregar baterias, com autenticas “mesas de casamento”, com pic-nics que mais parecem manjares de deuses, camiões e carrinhas que servem para dormir, transportar agua e fruta, ou simplesmente para ter o rádio ligado enquanto cá fora se dança e canta como se não se tivesse já caminhado mais de 100km… o corpo humano tem mesmo muitos segredos!!!
Entre muitas peripécias, encontros e desencontros, que me demorariam horas a descrever aqui, lá chegou a esperada última etapa, Pombal-Fátima. Para quem não conhece, as retas da estrada nacional nº1, elas são na zona do Pombal, mais longas que em qualquer outra parte do pais. Assim, quando se começa 1 daquelas rectas e se vê o seu fim lá no fundo, caminha-se e caminha-se e parece nunca mais acabar a dita!!! É desesperante…aqui, mais 1 truque dos “velhos” da estrada: Sr. Fernando tenho de parar, ainda falta muito?! – Não…Não, é mesmo já ali!!! São mais 10m para parar. É como quem engana 1 criança, não por maldade, mas antes porque tem de ser assim, e pronto, lá fazemos nós mais 2 horinhas até a prometida paragem sem nos darmos conta disso.
Já agora deixem-me dizer-vos que o pior da viagem são mesmo as estradas, completamente impróprias para peões, perigosas, com bermas que nem 30cm têm em algumas partes do percurso e onde os camiões passam a altas velocidades a cm dos nossos corpos!
No Barracão, essa bela localidade, saímos finalmente da estrada nacional e tomamos o caminho dos peregrinos pelo meio dos montes, um “corta-mato” de cerca de 20km até Fátima, que todos os peregrinos vindos do norte atravessam, pois para além de ser mais curto, é o caminho em que encontramos o Monte de Santa Catarina e a respectiva Via Sacra com cerca de 8km mesmo antes de entrar em Fátima.
Nestes últimos km deparamo-nos com milhares e milhares de peregrinos, vindos dos mais diferentes e inimagináveis locais deste nosso Portugal, mas todos eles com 1 mesmo objectivo. Também aqui surgiu a nossa peregrina quase desistente…mas ao fim de mais de 1h de conversa e descanso lá a convencemos que quem chega até ali, chega até ao fim…
Depois da Via Sacra, vemos Fátima no horizonte e o nosso coração começa a palpitar cada vez mais rápido e mais forte, juntamo-nos em grupo, vestimos as t-shirts da luta contra o cancro, chapéu igual na cabeça, o Fernando toma a dianteira do grupo e levanta a bandeira do grupo (Aldoar – Porto) a mesma que usam no apoio aos sem-abrigo e estamos mesmo a chegar.
Finalmente, por volta das 15h30 do dia 11 de Maio de 2006, entramos no recinto e a emoção e os sentimentos estão a flor da pele, é indescritível o que se sente ao entrar naquele recinto depois de uma viagem destas! Em frente a Capelinha das Aparições, abraçamo-nos uns aos outros, cumprimentamo-nos, choramos, libertamos o que nos vai cá dentro…é reconfortante e inexplicável esta sensação, as dores que trazíamos no corpo desaparecem por minutos, a paz interior e a alegria apodera-se de nós e sentimo-nos bem, muito bem.
Depois é tempo de descanso, de tratar de bolhas e de dores musculares, de reconfortantes almoços, jantares e dormidas nas Irmãs Vicentinas (Grupo de Freiras muito simpáticas e que fazem o bem de Fátima), que albergam por estes dias vários grupos de peregrinos e que deles cuidam como se de filhos se trata-se.
Procissão das velas com mais de 200 mil pessoas e Procissão do Adeus com mais de 300 mil, nem sequer vale a pena falar, pois só lá estando se pode sentir, é-me impossível descrever-vos.
Já era religioso, embora não praticante, mas sempre com a minha fé muito própria e que só a mim diz respeito, com muitas dúvidas e opiniões muitas vezes diferentes sobre muitas das coisas que a igreja católica defende e preconiza. Continuo igual, com as mesmas opiniões diversas em muitas questões, continuo igual, com a minha fé interior, mesmo sem ir a missas e afins…
Mas no entanto, venho diferente, realmente diferente, sobretudo no que diz respeito à maneira de encarar situações e comportamentos, de aprender que cada um é o que é e faz aquilo com que se sente melhor logo que não “pise” ninguém, que o amor ao próximo, a inter-ajuda entre seres humanos e o braço ou a palavra amiga entre nós, vale mais que muitas coisas banais do dia-a-dia.
Se cada um de nós, mesmo não sendo religioso, não tendo fé ou acreditando numa qualquer outra religião ou forma de fé, e há que respeitar isso como tudo o resto, der o melhor de si em prol dos outros e em prol de uma harmonia entre todos, o mundo será melhor, mais fácil, mais humano e sobretudo mais livre.
Foi sem duvida alguma, uma experiência de vida, não sei se para algum dia repetir ou não, mas que me ajudou a fazer algo que há muito não fazia…discutir, pensar e reflectir comigo mesmo!
2 comentários:
Parabens Renato.
Eu gostava de um dia ter a tua coragem.
Esperamos pelas tuas pinturas sobre a viagem a fatima.
acredita que me apetecia chorar so de ler o relato. apesar de extenso li-o ate ao fim. parabens pela coragem!
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